quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Memória de Educação Infantil.








"Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele." (Provérbios 22:6)
💓💓💓
Quando lembro de minha infância o que me vem à memória é a casa dos meus avós, lugar onde no domingo nos reuníamos com toda família para almoçar e ter um momento de muita descontração. Era nesse tempo que todos os primos se encontravam e a alegria reinava no recinto. Não tínhamos dinheiro, mas existia muito amor entre nós. ‘’A casa de vovô” como falávamos era um espaço que podia subir em árvore, jogar bola, ouvir histórias e “causos” maravilhosos. Era o nosso cantinho preferido, não existia lugar melhor no mundo. Podíamos ser crianças sem qualquer restrição, não nos era cobrado perfeição, ninguém queria que fôssemos um adulto em miniatura. A única coisa que nos exigia era que respeitássemos os mais velhos, não era cogitada a ideia de acordar ou chegar na casa dos nossos avós sem primeiro lhes pedir a benção. Se tinha adulto conversando se era preciso passar pelo meio dos mesmos era cobrado que se pedisse licença para passar pelo local.
Ah, como sinto saudades da minha infância, saudades dos abraços, carinhos e beijos que nossos familiares nunca nos negaram. Saudades dos sorrisos largos de todos sentados saboreando um delicioso almoço preparado por minha mãe, minha avó e minhas tias. Saudades dos conselhos, saudades dos olhos emocionado do meu avô quando me viu lendo pela primeira vez. Quanta saudade!!! 
Não precisávamos de muita coisa para sermos felizes de verdade, só bastava a sombra de um frondoso pé de cajá ou de uma laranjeira para todo o nosso final de semana ser incrível. Ali cidades eram criadas, comidinhas de mentirinhas eram oferecidas, escolas eram construídas, a nossa imaginação não tinha limites para criar. Brigas de vez em quando surgia, mas logo era apaziguada, pois nos lembravam que éramos “compadres e comadres” e não podia jamais ficar de mal, e isso era resolvido com um : “ natal, natal nunca mais ficar de mal” a gente falava essa frase entrelaçando os nossos dedos mindinhos formando uma espécie de elo, e a partir daquele instante toda raiva, ódio ou rancor era automaticamente desfeito. Continuava a brincadeira como se nada tivesse acontecido. De vez em quando algum adulto vinha dar uma olhada para ver se estava tudo em paz e se certificando que sim, continuávamos a brincar com a maior felicidade da face da terra.
Sempre fomos ensinados a valorizar o que tínhamos , por isso que os nossos brinquedos confeccionados pelos nossos pais e pelo nosso tio Pil, não ficava devendo em nada para os brinquedos caros que os nossos vizinhos faziam questão de desfilar na nossa frente, como se aquilo fosse nos fazer sentir inferiores ou tristes. Muitas vezes a única bonequinha que tinha era a de pano confeccionada por minha Mainha ou a de espiga de milho verde que eu amava. Como era divertido esse tempo, como éramos ricos de valores. Éramos estimulados que brincássemos, pois os nossos familiares sabiam que era um direito nosso como criança, e que nesse ato também se dava o nosso crescimento como ser completo. 

Recordo com uma pitada bem generosa de saudosismo, das brincadeiras diversas que tive contato quando criança e o privilégio de poder desfrutar de cada uma na infância bem vivida que tive. Bom, meu tio Pil era uma espécie de “ Gepeto” gostava de fabricar brinquedos, e a especialidade dele era carrinho de rolimã (nosso carrinho de Fórmula 1) , Lambreta, banquinha de sinuca , bonecos e etc. Ele era muito criativo. Era muito legal descer rua abaixo no carrinho de rolimã feito pelo meu tio, a rua toda ficava em polvorosa pois, além do meu tio tinha muito mais crianças que faziam seus próprios brinquedos e treinava a resistência dos mesmos na rua. 

Muitas vezes caia, os joelhos ficavam em frangalhos, só que isso não era motivo para a brincadeira parar. Quando mainha via ficava brava, mas logo estava ela curando os nossos machucados e passando o terrível Mertiolate que ardia que a gente chegava ver estrelinhas. Mas logo todo sofrimento era esquecido e as brincadeiras continuavam. Pois, sempre tinha um amigo chamando na porta para voltar à brincar. 
Esse momento era único, além de nos divertir também fazíamos novos coleguinhas. Sobre isso Vygotsky (1998) ressalta que a brincadeira infantil é entendida como atividade social da criança, cuja natureza e origem específicas são elementos fundamentais para a construção de sua personalidade e compreensão da realidade na qual se insere. Não brincávamos por brincar, existia uma interação, uma cumplicidade, uma aprendizagem mutua. Ah, lá em casa não tinha isso de que tal brincadeira é de menino, e tal brincadeira é de menina. Podíamos brincar do que achássemos legal. Minha mãe nunca me privou de brincar de bola de gude, de brincar de carrinho de rolimã e de pião. 

Os olhos atentos dela estavam sempre nos acompanhando nos momentos de nossas brincadeiras. O cuidado de minha Mainha sempre foi muito presente em meu viver, ela me dava liberdade, porém sempre monitorando e orientando esse ato. E sobre essa liberdade monitorada Montessori (1972,p.82) fala que o primeiro passo da educação é prover a criança de um meio que lhe permita desenvolver as funções que lhes foram designadas pela natureza. Isso não significa que devemos contentá-la e deixá-la fazer tudo o que lhe agrada, mas nos dispor a colaborar com a ordem da natureza, com uma de suas leis, que quer que esse desenvolvimento se efetue por experiências próprias da criança. 
       A infância foi um dos momentos mais maravilhoso que vivi na minha vida, cada instante foi cuidadosamente desfrutado, cada sim, cada não com a mesma intensidade. Foi tudo muito bem vivido, cada descoberta, cada amigo, cada brincadeira e a escola foi fundamental nesse caminho, não como divisora, mas sim como uma ponte que uniu as duas coisas, o aprender com o brincar. Em nenhum dia fui podada ou privada de ser criança. O que mais meus familiares queriam era que desfrutasse o máximo dessa fase tão mágica. Agradeço muito a Deus por ter me dado uma família compreensiva, amorosa e tão dedicada como a minha. Na minha infância não teve riqueza material, mas tinha um tesouro bem maior e mais valioso que qualquer riqueza, o amor. E os valores advindo dessa fonte é que tem permeado toda a minha vida.


“Toda criança no mundo, deve ser bem protegida, contra os rigores do tempo
Contra os rigores da vida, Criança tem que ter nome, Criança tem que ter lar
Ter saúde e não ter fome, Ter segurança e estudar...Andar debaixo da chuva,
Ouvir música e dançar, Ver carreira de saúva, Sentir o cheiro do mar...Uma caminha macia, Uma canção de ninar, Uma história bem bonita,
Então, dormir e sonhar...Embora eu não seja rei, Decreto, neste país,
Que toda, toda criança ,Tem direito a ser feliz!!!”
 💖💖💖
(O Direito das Crianças - Ruth Rocha)







5 comentários:

  1. Oi Rosana,
    Sua narrativa está muito linda e poética. É bonito ver o respeito a seus familiares. Senti falta somente de nessa narrativa sobre as suas memórias, você fundamentar com alguns autores que Marilete trouxe no semestre. Isso potencializaria seu blog.

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  2. Que lindo Dona Rosana. Ao ler cada palavra sua pude também viajar com as minhas memórias de infância e perceber que para nós enquanto criança tudo o que mais tínhamos era o amor 💕😊.
    Achei incrível na sua narrativa a maneira de como se resolvia toda briga, com a frase "natal, natal nunca mais ficar de mal" nunca tinha ouvido isso, mas que que legal, que eu possa compartilhar essa frases com as crianças que eu terei contato durante meu processo de formação e também depois concluir.

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  3. Obrigada meu amor.
    Que bom que você gostou!!! Gratidão pelas lindas palavras.

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  4. Que maravilha de relato,gostei bastante de poder ler como sua infância foi vivida de maneira tão simples e cheia de momentos únicos que até hoje ficaram marcados.

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